quarta-feira, 3 de junho de 2009

MO�AMBIQUE ...APESAR DE TUDO...

Apesar de tudo, Margarida Rebelo Pinto
29 May 09

Os para�sos servem-nos para esquecer que o resto do mundo existe ou para nos lembrar que o mundo pode ser um lugar melhor? Depois de uma semana em Mo�ambique, onde visitei Maputo e as belas ilhas do Bazaruto e de Santa Carolina, regressei de �frica com a sensa��o de ter visitado uma outra face da terra.

Por mais filmes que se vejam, mais livros que se leiam, por mais document�rios e not�cias que nos passem debaixo dos olhos, �frica s� pode ser absorvida, entendida e sentida in loco, com as suas cores e os seus cheiros, a sua beleza e a sua mis�ria, a sua m�sica e a sua magia, a sua imensid�o e as suas gentes. Foi preciso ir a �frica para finalmente perceber a nostalgia incur�vel, qual mal�ria do cora��o, dos que l� nasceram, cresceram ou viveram, e que a descoloniza��o obrigou a uma partida for�ada.

O que mais me tocou em Mo�ambique foi o povo mo�ambicano: educado, af�vel, tranquilo, feliz. Apesar da mis�ria, apesar da fome, apesar das doen�as, apesar de tudo. �frica � um continente sem filtro; tudo se vive � flor da pele e em carne viva. E tudo � brutal, seja o belo ou o horrendo. Mas os mo�ambicanos possuem uma do�ura que deve ser s� deles e que me conquistou para sempre. Viajei para l� contente e regressei feliz. Fui leve e voltei ainda mais leve.

� parte do cl�ssico epis�dio da intoxica��o alimentar, tive uma viagem de sonho, n�o s� pela beleza de tudo o que vi, pela forma como fui tratada. Os empregados do Pestana Lodge no Bazaruto j� sabiam o meu nome desde o segundo dia e quando foi preciso tratar da maleita, fizeram-me canja, ma�� cozida e n�o descansaram enquanto n�o me viram outra vez com cores na cara. Ora este tipo de aten��o n�o est� inclu�do naquilo a que chamamos servi�o de luxo. Um calor genu�no fez-me pensar como nos relacionamos com os outros, independentemente daquilo que eles nos possam dar em troca. Uma atitude generosa gera quase sempre generosidade do outro lado. A paz puxa a paz, a bonomia puxa a bonomia, a empatia gera empatia.

N�o sei quando voltarei a �frica nem sequer se o que l� vivi perdurar� na minha exist�ncia, mas tenho a certeza de que aprendi mais do que penso, de que vi mais do que acredito ter visto e de que guardei mais do que agora me lembro. O que eu sei � que me ficou na pele aquela forma de ser e de estar mo�ambicana, os sorrisos que d�o a volta � cara toda, as m�sicas entoadas nas carrinhas de caixa aberta que atravessam a cidade ao fim-de-semana com dezenas de homens e mulheres a caminho de um casamento, a alegria natural e espont�nea que nunca pode ser fingida nem fabricada. H� muito amor em Mo�ambique. Muito amor e muito prazer, apesar da fome, apesar da mis�ria, apesar de tudo.

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