sexta-feira, 31 de julho de 2009

CARTA A UM AMIGO SOBRE A 2� TRAVESSIA DO RIO ZAMBEZE


Carta a um caro e estimado amigo e camarada sobre a segunda Travessia do Rio Zambeze


Levantou-se um debate pol�mico em torno do nome da ponte sobre o Zambeze. Nem outra coisa seria de esperar, dados quatro factores: (i) o nome escolhido (o do Presidente da Rep�blica, Armando Em�lio Guebuza, controverso pelos seus m�todos de governa��o e liga��es activas com o mundo de neg�cios); (ii) o contexto pol�tico em que o nome foi escolhido (fim de mandato de uma governa��o absolutista, com um ambiente de crescente lambe-botismo e carreirismo e crescente culto de personalidade, conjugados com o ciclo eleitoral em que nos encontramos); (iii) a forma como a escolha foi feita (a �nica, ou uma das rar�ssimas sess�es do Conselho de Ministros n�o presididas pelo PR neste mandato, em que foram rejeitadas op��es claramente mais neutras e unificadoras sem qualquer justifica��o aceit�vel; seguida da declara��o de irreversibilidade da escolha, a qual, por si s�, � um reconhecimento de que existe um problema com a escolha); e (iv) o significado e o simbolismo hist�rico da travessia do Zambeze (esfor�o colectivo de gera��es de Mo�ambicanos combatentes libertadores, simbolizando que enquanto o colonialismo tudo fez para impedir a travessia do Zambeze, os Mo�ambicanos livres e combatentes tudo fizeram para promover a justa e livre travessia desse majestoso Rio).

Nas v�rias mensagens sobre o nome da ponte do Zambeze que j� recebi, n�o h� nada que justifique a atribui��o do nome de Armando Em�lio Guebuza (AEG) � ponte. H� uma cantilena sobre o significado da ponte, outra sobre os feitos recentes do grande timoneiro, mas n�o existe a mais pequena rela��o l�gica entre as cantilenas e o nome da ponte. Provavelmente, para a maioria das pessoas o que interessa � que haja uma boa e s�lida ponte e cada um usar� o nome que quiser. No entanto, h� algumas considera��es que gostaria de fazer usando o debate sobre o nome desta ponte como pretexto.

Historicamente, a travessia do Rio Zambeze tem sido fundamental na nossa vida. A travessia do Zambeze pelos guerrilheiros da FRELIMO foi um dos marcos fundamentais na constru��o da vit�ria sobre o colonialismo portugu�s. Por isso, at� temos ruas, pra�as, escolas, etc., que se chamam "Travessia do Zambeze". Mais uma vez, com a ponte a inaugurar em breve, a travessia do Zambeze ser� um marco hist�rico na unifica��o f�sica do territ�rio nacional e na reafirma��o e consagra��o da integridade territorial. Enquanto o colonialismo portugu�s tentou, com Cahora Bassa e com o colonato, impedir a travessia do orgulhoso rio Zambeze, a vit�ria do Povo Mo�ambicano permitiu a constru��o de uma ponte para facilitar e promover essa travessia. Essa vit�ria, constru�da por milh�es de her�is, foi sendo erguida em torno de eventos hist�ricos como a travessia do Zambeze para Sul. Portanto, a ponte sobre o Zambeze tem valor e simbolismo hist�rico que de longe ultrapassam o nome de qualquer pessoa viva ou morta.

A ponte sobre o Zambeze estava inscrita nas directivas econ�micas e sociais do III Congresso, foi reafirmada no IV Congresso, planificada e or�amentada no mandato do governo anterior (1999-2004), executada no actual mandato (2005-2009). Portanto, se fosse dado um nome presidencial a essa ponte, acho que ela se deveria chamar "Eduardo Mois�s Alberto Guebuza".

Portanto, ao contr�rio do que � afirmado por alguns, o AEG nao � o patrono da ponte. A epopeia da travessia do Zambeze n�o tem patrono individual - se tem patrono, este � colectivo, somos n�s todos e tem sido a nossa luta pela nossa liberta��o do colonialismo, do fascismo, do apartheid, do racismo, da opress�o, da repress�o, da indignidade, do lambe-botismo, da "cunha", da mis�ria; e pelo desenvolvimento com equidade e justi�a social e sustentabilidade ambiental e intergeracional. Se existe, o patrono da ponte do Zambeze somos n�s todos que lut�mos e lutamos por Mo�ambique.

Por outro lado, n�o � de bom gosto que o Presidente vivo e em exerc�cio ande a p�r o seu nome, ou a permitir que outros o fa�am, em obras nacionais desta envergadura. O seu nome ficar� ligado � ponte pois uma placa recordar� as gera��es vindouras de quem a inaugurou. Mas cai mal, fica mal, sabe mal e cheira mal atribuir o seu pr�prio nome � ponte. Politicamente, ele perde mais com isto do que ganha.

A internet, os celulares, a imprensa, andam agora a gozar com isto. O gozo chega ao ponto de hoje qualquer coisa (desde o novo caixote de lixo imagin�rio produzido por uma metalo mecanica nacional at� a ultima tenda hipot�tica de pipocas aberta em Tete) ser chamada AEG. Ate j� h� quem proponha chamar AEG a tudo e todos - todas as ruas, pra�as, escolas, centros de sa�de, edif�cios p�blicos, buracos nas estradas, capim nos jardins e pessoas. Assim j� n�o haveria confus�o nem discuss�o. Todo o Pais se chamaria AEG, seguindo o muito bom exemplo de regimes como o de Mobutu, onde cada Zairota j� nascia membro do ent�o chamado movimento revolucion�rio do Zaire. A dita Africaniza��o do Zaire serviu para legitimar o culto da personalidade e o absolutismo do poder de um regime ileg�timo que se dizia anti-imperialista e nacionalista mas que era, na pr�tica, fiel parceiro e servidor das multinacionais que dominaram aquele territ�rio e povo.

N�o penso que seja respons�vel e digno desgastar a imagem e a dignidade de um s�mbolo e de um �rg�o nacional. O PR � um s�mbolo e um �rg�o da Rep�blica, e nesta a soberania � dos cidad�os. O PR n�o e uma pessoa qualquer que pode usar o seu nome, ou deixar que o usem, a torto e a direito. A tarefa do PR n�o � tentar, a todo o custo, ficar registado na hist�ria. O PR n�o � propriedade privada nem pessoal. � UM S�MBOLO E UM ORG�O DA REP�BLICA. Como cidad�os desta Rep�blica, ser� que nos sentimos bem quando o PR vivo e em exerc�cio p�e, ou quer por, ou permite que ponham, o seu nome em tudo, incluindo numa dita square (pra�a) situada no cora��o da "lavandaria" nacional de dinheiro sujo e, ao mesmo tempo, na ponte que traz consigo o significado e o simbolismo da epopeia da Travessia do Zambeze? Sentimos orgulho nisto? Sentimo-nos libertados, dignificados e com mais auto-estima com isto? Provavelmente, alguns de n�s est�o satisfeit�ssimos; mas tamb�m � bem prov�vel que muitos outros n�o estejam.
Ser� que gostar�amos mesmo de ver AEG em todo o lado? Ser� que n�o nos preocupa saber que quando um cidad�o assume fun��es de �rg�o da Rep�blica tem o poder e a oportunidade para se esquecer dos princ�pios Republicanos, pessoalizar o poder, as obras e os s�mbolos da soberania dos cidad�os da Rep�blica, e que depende dele, n�o dos outros �rg�os democr�ticos da Rep�blica, se tal cidad�o usa (ou permite que outros usem) o poder que lhe � conferido pela Rep�blica para benef�cio pessoal, sejam eles eleitoralista, de ego pessoal ou quaisquer outros? Ser� que sentimos orgulho e auto-estima quando o Conselho de Ministros se re�ne para dar o nome do seu chefe em exerc�cio a uma ponte, em v�speras de fim de mandato e do in�cio de uma fase cr�tica do ciclo eleitoral, dando a entender que os membros do CM encontraram uma forma colectiva de tentar garantir os seus postos no pr�ximo mandato (uma esp�cie de acordo colectivo de trabalho)? Ser� que usar as obras p�blicas para fim eleitoralistas ou de culto de personalidade nos alegra e satisfaz? � por isto que gera��es e gera��es de Mo�ambicanos lutaram e lutam? � por isto que continuamos a lutar hoje? Para n�o existirmos a n�o ser que o PR nos reconhe�a, para sermos ap�stolos da desgra�a a n�o ser que as nossas obras levem o nome do PR, a sermos alvos a abater ("...a destruir como o colonialismo foi destru�do...", como diz uma das cartas que recebi) por ousarmos n�o concordar, por ousarmos criticar e pensar diferente?

Algumas das nossas tradi��es e cren�as tornaram-nos confort�veis com, e dependentes da, omnipresen�a, omnisci�ncia e omnipot�ncia de algum ser divino. Em face da d�vida suscitada por nunca nenhum ser divino nos ter aparecido, apesar da sua omnipresen�a, acabamos atribuindo essas caracter�sticas a pessoas como n�s, neste caso o PR da ocasi�o, seja ele quem for. Na �ltima confer�ncia de quadros do Partido Frelimo da era AEG, j� se falava de omnipot�ncia, omnisci�ncia e omnipresen�a. Estes conceitos fazem parte da cultura da submiss�o ao divino e ao poder e do pragmatismo dos lambe-botas, mas s�o totalmente opostos � cultura da cidadania Republicana, democr�tica e socialista (em que o Partido Frelimo se diz inspirar). Ser� que isto n�o nos preocupa?

N�s vivemos numa Rep�blica, e a Rep�blica e os seus cidad�os n�o se submetem a nada, a n�o ser �s suas pr�prias leis e regras, produto da sua experi�ncia e conflito hist�rico, social e pol�tico. Os cidad�os s�o os soberanos da Rep�blica.

Ali�s, um Partido que diz identificar-se com o socialismo democr�tico deve saber que em democracia socialista a soberania � dos cidad�os trabalhadores da Rep�blica socialista democr�tica, e n�o do patr�o (no socialismo democr�tico republicano, o tal patr�o nem deve existir).

Al�m disso, a omnipresen�a, a omnisci�ncia e a omnipot�ncia sabem mal, cheiram mal e soam mal. Sabem, cheiram e soam a Gestapo, a PIDE, a BOSS/NIS, a Mobutu, a fascismo, a repress�o, a opress�o, a humilha��o. O "patronismo" disto e daquilo assemelha-se � reclama��o da paternidade da democracia que um pobre idiota nosso compatriota, e seu porta-voz, continuam a fazer.

Ao contr�rio do proclamado por muitos, � direita e � esquerda, n�o h� "fim da hist�ria" - s� no fim do espa�o/tempo, e isso levar� v�rios bili�es de anos a acontecer para o Universo corrente; pouco mais que um par de bili�es de anos para o nosso sistema solar; e talvez alguns milhares de anos, se tivermos mais ju�zo do que at� aqui, para a Humanidade terrestre. Nesse tempo, muita �gua passar� em baixo da ponte e n�o me admiraria que ela, a ponte, mudasse de nome, particularmente se o seu nome original for AEG.

Imaginemos a indignidade e vergonha causadas por uma resolu��o de um futuro Parlamento nacional, daqui a alguns anos, a alterar os nomes de obras nacionais para resgatar o seu real significado hist�rico e Republicano! Imaginemos a imprensa, nessa altura, a entrevistar o Fel�cio Zacarias, j� velhinho, e este a dizer a qualquer coisa do g�nero "fomos obrigados a dar o nome, no contexto pens�vamos assim, eu estava contra mas cumpri orienta��es, o novo nome resgata o nosso sentimento real da �poca mas naquela altura n�o nos pod�amos opor; quando disse "irrevers�vel" falava do sentido legal na �poca e n�o do sentido da din�mica hist�rica", e outras coisas que tais. Imaginemos! Fechemos os olhos, por um momento esque�amos os deveres partid�rios de esfregar o poder nestas alturas cr�ticas do ciclo pol�tico, e imaginemos daqui a alguns anos algu�m a pensar para a sua m�quina qu�ntica pensante - que ter� substitu�do os computadores tal como os conhecemos hoje - uma carta em que se l�:
      "...amo-te, � hist�rica travessia do Zambeze que deste nome � ponte que nos uniu fisicamente", (em vez do actual "...n�s te amamos Armando Em�lio Guebuza ponte", que recebi numa carta, em que ambiguamente se usa a ponte para esconder a esfregadela ao divino AEG, ou se refor�a a divindade do AEG atribuindo-lhe, tamb�m, a capacidade de ser ponte).
      "...amo-te, � hist�rica epopeia libertadora geradora de her�is combatentes, indom�veis, insubmissos como tu, � poderoso Zambeze que �s livre como o pensamento soberano dos Homens que te atravessaram lutando pela liberdade; her�is, uns lembrados outros outrora esquecidos, como C�ndido Jeremias Mondlane, mas hoje resgatados, que proporcionaram a primeira de muitas travessias libertadoras do teu leito, her�is que enfrentaram a tua for�a e nela se inspiraram e inspiram para gerarem o seu esp�rito indom�vel e insubmisso que, como tu, � majestoso Zambeze que continuamente se renova, simboliza o que s�o os cidad�os da Rep�blica socialista democr�tica de Mo�ambique..." (desculpem a minha total e completa aus�ncia de veia po�tica, mas nunca tentei ter uma).
Imaginem a ansiedade com que aguardo ouvir o que os vira-casacas de amanh� (lambe-botas de hoje) v�o dizer para se justificarem. Ou como anseio o momento em que o Fel�cio Zacarias vai finalmente aprender que nada neste mundo � irrevers�vel (para al�m do tempo no espa�o sobre o qual nem o AEG nem o CM - ali�s, nem Einstein - t�m controlo), nem mesmo a decis�o de atribuir o nome do grande timoneiro � ponte do orgulhoso e majestoso Rio. E nessa altura, o cidad�o AEG n�o estar� aqui para esclarecer para todos n�s ouvirmos bem que um grupo de puxa-sacos usou o seu nome em v�o, e que ele nunca lhes disse para o fazerem.

Para cortar curta uma hist�ria que j� vai longa, chamar ponte AEG � do Zambeze cheira mal, soa mal, sabe mal, cai mal e parece mal. Parece, cheira, soa e sabe a culto de personalidade de baixa qualidade, e este cheira, sabe e soa a fascismo, a absolutismo mon�rquico, a viola��o grosseira e de mau gosto dos princ�pios Republicanos, da cidadania Republicana e do socialismo democr�tico; e cai como mais uma de muitas n�doas no pano j� muito sujo que reflecte a imagina��o "democr�tica" dos lambe-botas do nosso actual regime pol�tico. Fica mal usar o nome do PR, s�mbolo da soberania dos cidad�os da Rep�blica, a torto e a direito, e em v�o (e, mais provavelmente, sem a sua autoriza��o) para dar nomes a pontes sobre rios majestosos, indom�veis e cheios de hist�ria como o Zambeze (al�m de ser tamb�m nome de uma square qualquer de um complexo comercial de origem duvidosa).

Como dizia Nicolai Bukharine, ent�o membro do Comit� Central do Partido Comunista da R�ssia, quando Estaline prop�s um mausol�u para o corpo de Lenine e se visualiza a atribui��o dos nomes Estalinegrado e Leninegrado a duas grandes cidades, "...um cheiro nauseabundo come�a a penetrar no Comit� Central do Partido:" Poucos anos depois, a grande purga Estalinista levou ao assassinato de milh�es de comunistas militantes de causa justa e n�o carreirista (incluindo Bukharine) e de muitos outros cidad�os honestos, inovadores, trabalhadores que ousaram opor-se ao culto de divindade e �s pol�ticas repressivas do querido dirigente, que acreditaram que a Rep�blica, principalmente a Rep�blica socialista, deveria ser profundamente democr�tica e em total ruptura com o poder absolutista do Czar e de Estaline e dos seus aparelhos de propaganda e repress�o. Os assassinatos em massa n�o pararam a hist�ria, nem o pensamento, o vento e a ac��o. Estaline e o seu tipo de regime est�o hoje no seu devido local de repouso - o caixote de lixo da hist�ria. N�o direi eternamente, porque a hist�ria n�o tem fim.

Felizmente, n�o h� machado que corte a raiz ao pensamento porque este � livre como o vento. Ali�s, os combatentes da liberdade em Mo�ambique sabem muito bem que n�o se corta a raiz ao pensamento, que, como dizia Samora, n�o se para o vento com as m�os. O fascismo colonial e racista n�o travou o pensamento libertador; ati�ou-o. � esse o sentido do belo poema de Armando Guebuza em que ele diz que as suas dores mais as nossas dores v�o acabar com a opress�o e conquistar a liberdade.

Por mais nauseabundo que o cheiro possa ser num certo momento, o vento da hist�ria se encarregar� de limpar o ar. E o vento da hist�ria � o produto de todos n�s, inspirados, entre outros, pelos obreiros da primeira e das muitas outras Travessias do Zambeze.

Nelson Mandela � uma pessoa cuja dignidade �, por enquanto, inquestionavelmente exemplar para todos n�s. Particularmente, h� dois momentos e processos, entre muitos outros, que marcam profundamente a forma como muitos para ele olham com admira��o e respeito. Um, foi uma declara��o que ele pr�prio fez, h� muitos anos, pouco depois da sua liberta��o, em que disse que n�o era nenhum messias, mas apenas um combatente da liberdade, convicto e determinado, como tantos outros milh�es de sul-africanos que ousaram lutar e ousaram vencer o apartheid. Outro, foi a sua extraordin�ria magnanimidade na vit�ria, contribuindo para criar um mundo em que a justeza da luta resulta em que todos ganham com a Vit�ria dos ideais justos dessa luta, mesmo os que tenham lutado contra esses ideais. Faz lembrar as palavras de Samora, que dizia que a nossa luta nos libertou a n�s e aos pr�prios colonos e aos colonialistas. Ou as prof�ticas palavras de Jorge Rebelo, que dizem que n�o basta que a nossa luta seja justa, � necess�rio que a justi�a viva dentro de n�s.

Como seria magn�fico se no acto da inaugura��o da ponte o PR (s�mbolo e �rg�o da nossa Rep�blica) fizesse justi�a a todos os Mo�ambicanos que, lutando por Mo�ambique, contribu�ram para a constru��o da ponte do Zambeze! Como seria glorioso, para AEG como cidad�o pol�tico, que no acto da inaugura��o da ponte usasse a sua tend�ncia para a omnisci�ncia e omnipot�ncia para declarar, alto e para todos n�s ouvirmos bem, para todo o Mundo ouvir bem, que em nome dos cidad�os livres e soberanos da nossa Rep�blica inspirada na epopeia libertadora e her�ica de ontem e de hoje, a ponte ora inaugurada passaria a chamar-se "Ponte da Travessia do Zambeze" (ou ponte do Zambeze, ou ponte da Unidade Nacional).

A� estaria a ser refor�ada a dignidade do PR como �rg�o da Rep�blica e a magnanimidade do AEG como pol�tico de dimens�o nacional e internacional. A�, a interven��o do PR, AEG, estaria a unir todos n�s na mesma vit�ria e no mesmo simbolismo hist�rico da segunda travessia do Zambeze.

A�, o PR, o pol�tico AEG, estaria a inaugurar uma ponte entre o passado glorioso e o futuro que se quer brilhante, mas tamb�m a indicar claramente que o nosso Pa�s � uma Rep�blica em que o poder e a soberania pertencem aos cidad�os e n�o podem nunca ser pessoalizados ou usurpados para fins pessoais ou outros contr�rios aos princ�pios Republicanos democr�ticos.

A� estaria a ficar clara a isen��o do PR em rela��o aos lambe-botismo dos que usam e abusam do seu nome e, por iner�ncia, de um �rg�o da Rep�blica, em v�o. A�, o lambe-botismo estaria a ser postos no seu lugar, o caixote do lixo da hist�ria.

Mas, claro, estou imaginando que o PR gostaria, ele pr�prio, de fazer ou manifestar algo do g�nero. Mas n�o estou totalmente seguro que esse seja o seu desejo.

Que a historia a todos nos absolva.

A Luta Continua, em prol dos princ�pios inalien�veis da Rep�blica socialista democr�tica.

Teu amigo e camarada,

Carlos Nuno


PS: Amigo e camarada, n�o me respondas evocando tradi��es Africanas que requerem um chefe omnipotente e omnipresente. Essas ditas tradi��es s�o criadas e instrumentalizadas para legitimar o ileg�timo, e j� cheiram nauseabundamente mal. Foi esse tipo de tradi��es absolutistas e reaccion�rias que abriu as portas para a nossa coloniza��o. Tamb�m n�o me respondas dizendo que afinal � s� um nome - se isso fosse verdade, ent�o estar�amos a desafiar ainda mais do que imagino a dignidade do PR. N�o me digas que outros Presidentes fizeram a mesma coisa - se a tarefa do actual � apenas repetir o que outros fizeram, ent�o por que n�o deixar os outros l� em vez de eleger um novo? O que � que o novo traz de inovador ao Pa�s? N�o me acuses de n�o ter intelectualizado suficiente a quest�o do ponto de vista de filosofia pol�tica. Nem sequer o quis fazer. S� quis mostrar dois pontos: se a ponte do Zambeze tem por tr�s de si o simbolismo hist�rico da epopeia libertadora da Travessia do Zambeze pelos guerrilheiros da FRELIMO, epopeia esta que n�o pode nem deve ser pessoalizada em ningu�m, vivo ou morto, por ser uma epopeia colectiva de todo um Povo; por outro lado, o culto da personalidade tem por tr�s de si o absolutismo e � sua frente a tirania e oportunismo. N�o me digas que n�o tenho legitimidade para me exprimir sobre estas quest�es como o fiz. Claro que tenho, pois sou cidad�o livre e soberano desta Rep�blica. Qualquer outra caracter�stica - etnia ou regi�o de origem, tamanho dos olhos ou do nariz, cor da pele, forma de express�o, posi��o social ou cultural, altura ou largura, posi��o na hierarquia das listas oficiais de cidad�os - � completamente irrelevante quando comparada com a minha caracter�stica de cidad�o livre e soberano desta Rep�blica. Finalmente, de nada te vale acusares-me de ser da oposi��o (como hoje � moda). Primeiro, h� uma diferen�a substancial entre "ser da oposi��o" e "estar na oposi��o". Segundo, nas condi��es actuais nem � preciso mudar de Partido para estar na oposi��o. Terceiro, estar na oposi��o ao culto da personalidade e ao absolutismo e oportunismo a ele associados, e ser a favor da Rep�blica socialista democr�tica s�o, para mim, motivos de enorme orgulho e auto-estima, e geradores de enorme e inesgot�vel energia. Quarto, ainda que eu fosse "da oposi��o", n�o seria esse um direito inalien�vel que teria como qualquer cidad�o, garantido pela Constitui��o e protegido pelo PR?

Um abra�o.

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Carlos Nuno Castel-Branco
(Director)
Instituto de Estudos Sociais e Econ�micos (IESE)
Av. Patrice Lumumba 178, Maputo, Mo�ambique
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