sábado, 15 de agosto de 2009

AINDA EST

Ainda est�o matando o meu pai

Por Jessica Siba-Siba Macu�cua

Tenho 14 anos. O meu irm�o, o Walter, tem mais dois anos do que eu. Quando meu pai foi assassinado, eu tinha 6 anos. Ter 6 anos e idade para sermos crian�as, para nos aninharmos no colo de um pai. Eu j� tive esse pai, j� tive esse colo, esse carinho.

A 11 de Agosto de 2001, roubaram-me tudo isso. Nesse dia, eu deixei de ser apenas uma menina. Passei a ser �rf�. Minha m�e deixou de ser esposa feliz. Passou a ser vi�va. A roupa dela escureceu e a alma dela tamb�m. Em redor da nossa mesa haver� para sempre um lugar vazio. Na nossa alma, h� uma ferida que nunca mais para de sangrar.

Meu pai tinha 33 anos quando foi lan�ado para a morte. Os grandes chefes do meu pai, os grandes chefes de Mo�ambique apareceram no funeral. Todos me abra�aram e me dirigiram palavras de conforto. Fizeram promessas. E disseram que os culpados seriam conhecidos e punidos. Nunca aconteceu nada disso.

Disseram que fariam justi�a doesse a quem doesse. At� aqui essa dor s� pesa em mim, na minha fam�lia. A minha m�e diz que essa dor pesa em todos os que amam a verdade.

E a verdade � que nunca mais vi nenhum desses senhores que tantas promessas fizeram. Nem sequer nos dias de homenagem. Nunca mais apareceram. Ningu�m. Eles esqueceram o abra�o de conforto, esqueceram as promessas. Mas eu n�o esque�o. Como � poss�vel esquecer? Algum de voc�s esqueceria?

H� oito anos que me prometem fazer justi�a. S�o mais anos de mentira do que aqueles que eu tinha quando mataram o meu pai. Agora que posso falar, eu quero dizer uma coisa, o crime que nos levou o nosso pai n�o foi cometido apenas naquele triste dia. Esse crime continua a ser cometido todos os dias. As falsas promessas, o fingimento que qualquer coisa esta a ser feito, essa falsidade esta ainda matando. Esta matando a minha cren�a na justi�a. Nesta justi�a que fica calada perante o sangue dos homens bons.

N�o quero mais mentira. A minha voz e pouca e e pequena. Mas eu sei que h� outras vozes, que h� vozes de muita gente que ainda pergunta: onde esta a investiga��o? Ate quando os culpados estar�o a solta?

Para isso, vos peco, meus titios, homens e mulheres do meu pai: n�o deixem que esque�am, n�o deixem que continuem assassnando o meu querido pai, n�o deixem que fique frio e esquecido o nome de Ant�nio Siba-Siba Macuacua.

* Filha de Ant�nio Siba-Siba assassinado h� 8 anos na homenagem ontem ao jovem economista


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