segunda-feira, 3 de agosto de 2009

TOST�O DA SELEC��O DO BRASIL ANOS 70

O drible, o passe e o gol

TOST�O

Folha de S. Paulo, 02/08/2009

NA COLUNA anterior, escrevi que, para ser um �timo jogador, � preciso, antes de tudo, conhecer e executar bem as coisas comuns e essenciais.
Disse ainda que � necess�rio aprender a regra antes da exce��o.
Parece �bvio, mas n�o �.
Quando era professor de medicina, notava que um grande n�mero de alunos sabia e gostava mais das coisas raras, das exce��es, do que da regra. Eles pareciam saber muito, por�m sabiam pouco. N�o sabiam as coisas b�sicas. Isso ocorre em todas as atividades.
No futebol, podemos dizer que os fundamentos t�cnicos da posi��o (passe, drible, finaliza��o, desarme, cruzamento) s�o a regra.
� preciso faz�-los bem para ser um �timo jogador. N�o � o que muitas vezes acontece.
Alguns atletas extremamente habilidosos e criativos n�o v�o para a frente por causa dessa defici�ncia. Outros, mais t�cnicos que habilidosos, t�m mais sucesso.
A habilidade � a intimidade com a bola, a capacidade de domin�-la, col�-la aos p�s e escond�-la do advers�rio. O drible � uma mistura de habilidade e t�cnica.
A criatividade � a capacidade de, em uma fra��o de segundos, encontrar uma solu��o diferente, perceber as posi��es e os movimentos de todos os que est�o � sua volta e calcular a velocidade da bola, dos companheiros e dos advers�rios. Hoje, especialistas chamam isso de intelig�ncia cinest�sica.
A bola n�o procurava Rom�rio, como gostavam de dizer. Rom�rio estava sempre livre para fazer o gol porque sabia, antes dos outros, aonde a bola ia chegar.
O sonho dos treinadores � transformar o futebol em um jogo cada vez mais exato, mais de t�cnica, como � o caso do v�lei.
Assim, eliminariam os acasos, e as estrat�gias seriam mais valorizadas. Bastaria treinar bastante e repetir no jogo. Os melhores ganhariam sempre dos piores. O futebol perderia o encanto.
O talento � a s�ntese das virtudes e das defici�ncias. Nenhum talento individual � suficiente se o atleta n�o tiver tamb�m talento coletivo e �timas condi��es f�sicas e emocionais.
Talento coletivo � a capacidade de se adaptar �s caracter�sticas dos companheiros e de ter a consci�ncia de que o brilho individual depende do brilho coletivo.
Dou mais valor ao passe decisivo -como os excepcionais dados por Hernanes, contra o Gr�mio, e Cleiton Xavier, contra o Fluminense- que aos gols marcados por Dagoberto e Diego Souza nessas partidas.
Os passes foram muito mais bonitos e mais representativos de uma grande t�cnica.
Os gols s�o mais valorizados que os passes. Quando se fala da carreira de um jogador, principalmente de um meia ou atacante, conta-se sempre o n�mero de gols que ele fez.
Ningu�m sabe quantos foram os passes decisivos para gols.
O artilheiro � o her�i, mesmo se for um grosso e atrapalhar o futebol coletivo da equipe.
Se o drible � o mais l�dico dos lances, e o gol define o resultado (muitas vezes, n�o h� rela��o entre o placar e a hist�ria da partida), o passe � o mais solid�rio dos fundamentos t�cnicos do futebol.
O passe � a uni�o, a ponte entre o individual e o coletivo, entre o desejo, a ambi��o e a raz�o.

Veja aqui:

http://www.youtube.com/results?search_query=tost%C3%A3o&search_type=&aq=f

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