segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A MINHA LEITURA (Jos� Niza) ainda sobre Manuela Moura Guedes

A Minha Leitura (Jos� Niza)


Fui director de programas da RTP e depois seu administrador. E garanto-vos
que, se alguma vez algum apresentador ou jornalista desse uma entrevista a
chamar-me "est�pido", a primeira coisa que aconteceria seria o cancelamento
imediato do seu programa, independentemente de haver ou n�o elei��es em
curso.

Por isso me parece incompreens�vel que, embora rios de tinta j� se tenham
escrito sobre o cancelamento do jornal nacional que Manuela Moura Guedes
(MMG) apresentava na TVI, todos os analistas e comentadores tenham ignorado
a explosiva e provocat�ria entrevista que MMG deu ao Di�rio de Not�cias dias
antes de a administra��o da TVI lhe ter acabado com o programa.

Em meu entender essa entrevista, realizada com anteced�ncia para ser
publicada no dia do regresso de MMG com o seu jornal nacional, foi a gota de
�gua que precipitou a decis�o da TVI. � que, o seu conte�do, de t�o
explosivo e provocat�rio que era, come�ou a ser divulgado dias antes. E se
chegou ao meu conhecimento, mais cedo ter� chegado � administra��o da TVI.

Nessa entrevista MMG chama "est�pidos" aos seus superiores. Ali�s, as
palavras "est�pidos" e "estupidez" aparecem v�rias vezes sempre que MMG se
refere � administra��o.

� um documento que merece ser analisado, n�o somente do �ngulo jornal�stico,
mas sobretudo do ponto de vista comportamental. � uma entrevista de uma
pessoa claramente perturbada, convicta de que � a maior ("Eu sou a Manuela
Moura Guedes"!) e que se sente perseguida por toda a gente. (Em psiquiatria
esse tipo de fen�menos s�o conhecidos por "ideias delirantes", de grandeza
ou de persegui��o).

MMG diz-se perseguida pela administra��o da TVI; afirma que os accionistas
da PRISA s�o "ignorantes"; considera-se "um alvo a abater"; acusa Jos�
Alberto de Carvalho, Jos� Rodrigues dos Santos e Judite de Sousa de fazerem
"fretes ao governo" e de serem "cobardes"; acusa o Sindicato dos Jornalistas
de pessoas que "nunca fizeram a ponta de um corno na vida"; diz que o
programa da RTP 2, Clube de Jornalistas, � uma "porcaria"; provoca a ERC
(Entidade Reguladora da Comunica��o Social); arrasa Miguel Sousa Tavares e
Pacheco Pereira, etc.

E quando o entrevistador lhe pergunta se um piv� de telejornal n�o deve ser
"imparcial", "equidistante", "ponderado", ela responde: "Ent�o metam l� uma
boneca insufl�vel"!

Como � que a uma pessoa que assim "pensa" e assim se comporta, pode ser dado
tempo de antena em qualquer televis�o minimamente respons�vel?

Ao contr�rio do que alguns pretendem fazer crer - e como sublinhou M�rio
Soares - esta quest�o n�o tem nada a ver com liberdade de imprensa ou com a
falta dela. Trata-se, simplesmente, de um acto e de uma imperativa decis�o
administrativa, e de bom senso democr�tico.

Como � que algu�m, ou algum programa, a coberto da liberdade de imprensa,
pode impunemente acusar, sem provas, pessoas inocentes? � que a liberdade de
imprensa n�o � um valor absoluto, tem os seus limites, implica tamb�m
responsabilidades. E quando se pisa esse risco, est� tudo caldeirado. H�, no
entanto, uma coisa que falta: uma explica��o totalmente clara e convincente
por parte da administra��o da TVI, que ainda n�o foi dada.

Vale tamb�m a pena considerar os posicionamentos pol�tico-partid�rios de MMG
e do seu marido.

J. E. Moniz tem, desde M�rio Soares, um �dio visceral ao PS. Sei do que
falo. MMG foi deputada do CDS na AR.At� aqui, nada de especialmente
especial.

O que j� n�o est� bem - e � criminoso - � que ambos se sirvam de um
telejornal para impunemente acusarem pessoas inocentes, sem quaisquer
provas, instilando insinua��es e induzindo suspei��es.

Ainda mais reles � o miser�vel aproveitamento partid�rio que, a come�ar no
PSD e em M. F. Leite, e a acabar em Lou�� e no BE, est� a ser feito. Estes
l�deres pol�ticos, tal como Paulo Portas e Jer�nimo de Sousa, sabem muito
bem, que nem S�crates nem o governo tiveram qualquer influ�ncia no caso TVI.
Eles sabem isto. Mas Salazar dizia: "O que parece, �"!

E eles aprenderam.




- 1984. Eu era, ent�o, administrador da RTP. Um dia a minha secret�ria
disse-me que uma das apresentadoras tinha urg�ncia em falar comigo: - "Venho
pedir-lhe se me deixa ir para a informa��o, quero ser jornalista"!
Perguntei-lhe se tinha algum curso de jornalismo. N�o tinha. Perguntei-lhe
se, ao menos, tinha alguma experi�ncia jornal�stica, num jornal, numa
r�dio... N�o tinha. "O que eu quero � ser jornalista"! Percebi que estava
perante uma pessoa t�o determinada quanto ignorante. E disse-lhe: "V� falar
com o director de informa��o; se ele a aceitar, eu passo-lhe a guia de
marcha e deixo-a ir". A magricelas conseguiu. Dias depois, na primeira
entrevista que fez - no caso, ao presidente do Sporting, Jo�o Rocha - a
peixeirada foi t�o grande que ficou de castigo e sem microfone uma data de
tempo.

P.S.

A jovem apresentadora chamava-se Manuela Moura Guedes.

E se eu soubesse o que sei hoje...



Ribatejo - Portugal

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