sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A CABE�A DO POLVO by M�rio Crespo

A cabe�a do polvo

O sistema judicial portugu�s enfrenta o imenso desafio de n�o deixar que o Face Oculta se torne numa segunda Casa Pia. At� aqui o processo tem tido um avan�o modelar. N�o houve interfer�ncias pol�ticas. Lopes da Mota n�o veio de Bruxelas discutir com os seus pares metodologias de arquivamento e, no que foi uma excelente janela de oportunidade de afirma��o de independ�ncia, n�o havia sequer Ministro da Justi�a na altura em que o Pa�s soube da enormidade do que se estava a passar no mundo da sucata. Mas h� ainda um perturbante sinal de identidade com a Casa Pia. � que o �nico detido, at� aqui, � o equivalente ao Bibi e Manuel Godinho, o sucateiro, no mundo da alta finan�a pol�tica n�o pode ser muito mais do que Carlos Silvino foi no mundo da pedofilia. Ambos serviram amos exigentes, impiedosos e conhecedores que tentaram, e tentam, manter a face oculta. � preciso ter em mente que as empresas p�blicas s�o organiza��es complexas. Foram concebidas para ser complicadas. Com os tempos foram-se tornando cada vez mais sinuosas. Nas EPs, as tecnoestruturas, que Kenneth Galbraith identificou e descreveu como o cancro das grandes organiza��es, ocupam tudo e t�m-se multiplicado, imunes a qualquer conceito de racionalidade democr�tica, num universo onde n�o conta o bom senso ou a l�gica de produtividade. Parecem ter um �nico fim: servirem-se a si pr�prias. Realmente j� n�o s�o fiscaliz�veis. Nas zonas onde era poss�vel algum controlo foram-se inventando compartimentos labir�nticos para o neutralizar, com centros de custos onde se lan�am verbas no pretexto te�rico de elaborar contabilidades anal�ticas, mas cujo efeito pr�tico � tornar impenetr�veis os circuitos por onde se esvai o dinheiro p�blico. H� sempre mais um campo a preencher em formul�rios reinventados constantemente onde as rubricas de gente que de facto � inimput�vel s�o necess�rias para manter os monstros a funcionar. Sem controlo eficaz, nas empresas p�blicas � poss�vel roubar tudo. Uma resma de papel A4, uma caneta BIC, um milh�o de Euros, uma auto-estrada ou uma ponte. Tudo isto j� foi feito. Por isso mais de metade do produto do trabalho dos portugueses est� a fugir por esse mundo soturno que muito poucos dominam. Por causa disso, grande parte do patrim�nio nacional � j� propriedade dos conglomerados pol�tico-financeiros que hoje controlam o Pa�s. Por tudo isto � inconceb�vel que Manuel Godinho tenha sido o c�rebro do polvo que durante anos esteve infiltrado nas maiores empresas do Estado. Ele nunca teria conhecimentos t�cnicos para o conseguir ser. Houve quem o mandasse fazer o que fez. Godinho saber� subornar com de sacos de cimento um Guarda-republicano corrupto ou disfar�ar com lixo fedorento res�duos ferrosos roubados (pags 8241 e 8244 do despacho judicial). Saber� roubar fio de cobre e carris de caminho de ferro. Mas Godinho n�o � mais do que um executor empenhado e bem pago de uma quadrilha de altos executivos, conhecedores do sistema e das suas vulnerabilidades, que mandou nele. � preciso ir aos respons�veis pelas empresas p�blicas e aos minist�rios que as tutelam. Nas finan�as p�blicas, Manuel Godinho n�o � mais do que um Carlos Silvino da sucata. Se se deixar instalar a ideia de que ele � o centro de toda a culpa e que morto este bicho est� morta esta pe�onha, as faces continuar�o ocultas. E a verdade tamb�m. M�rio Crespo

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