terça-feira, 10 de novembro de 2009

CR�NICA DE M�RIO CRESPO

Diferen�as
00h30m

Assistir ao dur�ssimo questionamento da comiss�o de inqu�rito senatorial nos Estados Unidos para a nomea��o da ju�za S�nia Sottomayor para o Supremo Tribunal � ver um magn�fico exerc�cio de cidadania avan�ada. N�o temos em Portugal nada que se lhe compare. Se os nossos parlamentares tivessem a independ�ncia dos congressistas americanos, Cavaco Silva nunca teria sido presidente, S�crates primeiro-ministro, Dias Loureiro Conselheiro de Estado, Lopes da Mota representante de Portugal ou Alberto Costa ministro da Justi�a. O impiedoso exame de comportamentos, curricula e car�cter teria posto um fim �s respectivas carreiras p�blicas antes delas poderem causar danos.
Se a Assembleia da Rep�blica tivesse a for�a pol�tica do Senado, os neg�cios do cidad�o An�bal Cavaco Silva e fam�lia, com as ac��es do grupo do BPN, por legais que fossem, levantariam quest�es �ticas que impediriam o exerc�cio de um cargo p�blico. Se o Parlamento em Portugal tivesse a vitalidade democr�tica da C�mara dos Representantes, o acidentado percurso universit�rio de Jos� S�crates teria feito abortar a carreira pol�tica. N�o por insufici�ncia de qualifica��o acad�mica, que essa � irrelevante, mas pelo facilitismo de actua��o, esse sim, definidor de car�cter.
Do mesmo modo, uma Comiss�o de Neg�cios Estrangeiros no Senado nunca aprovaria Lopes da Mota para um cargo em que representasse todo o pa�s num �rg�o estrangeiro, por causa das reservas que se levantaram com o seu comportamento em Felgueiras, que denotou a falta de entendimento do procurador do que � pol�tico e do que � justi�a. Tamb�m por isto, numa audi��o da Comiss�o Judicial do Senado, Alberto Costa, com os seus antecedentes em Macau no caso Emaudio, nunca teria conseguido ser ministro da Justi�a, por pura e simplesmente n�o inspirar confian�a ao Estado.
Assim, se houvesse um Congresso como nos Estados Unidos, com o seu papel fiscalizador da vida p�blica, por muito forte que fosse a cumplicidade dos afectos entre Dias Loureiro e Cavaco Silva, o executivo da Sociedade Lusa de Neg�cios nunca teria sido conselheiro presidencial, porque o presidente teria tido medo das cargas que uma tal nomea��o inevitavelmente acarretaria num sistema pol�tico mais transparente. Mas nem Cavaco teve medo, nem S�crates se inibiu de ir buscar diplomas a uma universidade que, se n�o tivesse sido fechada, provavelmente j� lhe teria dado um doutoramento, nem Dias Loureiro contou tudo o que sabia aos parlamentares, nem Lopes da Mota achou mal tentar for�ar o sistema judicial a proteger o camarada primeiro-ministro, nem Alberto Costa se sentiu impedido de ser o administrador da justi�a nacional em nome do Estado l� porque tinha sido considerado culpado de pressionar um juiz em Macau num caso de promiscuidade pol�tica e financeira. Nenhum destes actores do nosso quotidiano tinha passado nas audi��es para o casting de pap�is relevantes na vida p�blica nos Estados Unidos. Aqui nem se franziram sobrolhos nem houve interroga��es. N�o houve ningu�m para fazer perguntas a tempo e, pior ainda, n�o houve sequer medo ou pudor que elas pudessem ser feitas. � que essa cidadania avan�ada que regula a democracia americana ainda n�o chegou c�

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