quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

GORONGOSA NA BOLSA DE TURISMO

O PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA

DE NOVO NA BOLSA DE TURISMO DE LISBOA

(TEXTO E FOTO EXTRA�DOS DO SITE DA REVISTA VIS�O)

O SALVADOR DA GORONGOSA



"Greg Carr, o multimilion�rio que inventou o voice mail, apresenta esta ter�a-feira, em Lisboa, um document�rio sobre o parque natural de Mo�ambique, em cuja reabilita��o vai investir 24,7 milh�es de euros. Em Novembro de 2006, a VIS�O visitou aquela reserva e conversou com o filantropo. Leia ou releia a reportagem e veja a galeria de fotos J. Pl�cido J�nior 12:14 Ter�a-feira, 12 de Jan de 2010

Greg Carr

Um homem louro, de faces rosadas e estatura m�dia, calcorreava o aeroporto da cidade da Beira de T-shirt desajeitada e cal��es. Quanto a n�s, procur�vamos um multimilion�rio, de que s� sab�amos o nome. Surpresa: aquele quarent�o descontraid�ssimo era mesmo Gregory Carr, o filantropo que se prop�e gastar 36 milh�es de d�lares (24,7 milh�es de euros) na reabilita��o do Parque da Gorongosa, 3 770 quil�metros quadrados na prov�ncia de Sofala, no centro de Mo�ambique, que noutros tempos acolheram a maior densidade de animais em �frica. Ali ocorreram dos mais encarni�ados combates entre as tropas do Governo da Frelimo e os guerrilheiros da Renamo, ao longo dos 16 anos de guerra civil (que terminou em 1992), a que se juntaram a ca�a furtiva e a fome. Resultado: grandes mam�feros dizimados em mais de 95%, e os 54 diferentes ecossistemas largamente afectados. Quando demos por ela, j� est�vamos a voar no helic�ptero, com cinco lugares, de Greg Carr, 47 anos. Com o seu computador port�til ao colo e aberto, ao lado do piloto, ele aproveitou a breve viagem, de menos de meia-hora, para desfiar uma torrente de assuntos a dois colaboradores, atrav�s do circuito interno de som. N�o escondeu a sua insatisfa��o quanto ao que nos pareceu ser o planeamento financeiro do projecto. Mas, chegados � Gorongosa, distribuiu alegremente guloseimas por um magote de mi�dos. Naquele dia, faltou-lhe tempo para levar alguns dos catraios numa volta de "heli", como, asseguraram-nos, faz com frequ�ncia. Imagine-se aqueles filhos da pobreza extrema a sobrevoar o parque, quando, muito provavelmente, nem sequer de autom�vel ainda andaram!... Puro marketing? Arriscamos a negativa. Empurr�o dos Kennedy


"N�o � dos que p�em c� um d�lar, para levar um d�lar e meio", acredita um mo�ambicano do seu staff. A verdade � que Greg Carr ganhou a confian�a de figuras como o escritor Mia Couto, 51 anos, que trabalha no projecto enquanto bi�logo. Em 2004, o ent�o Presidente da Rep�blica, Joaquim Chissano, abriu as portas da Gorongosa � Funda��o Carr (institui��o sem fins lucrativos que Greg criou em 1999), para uma gest�o a 30 anos do parque, em conjunto com o Minist�rio mo�ambicano do Turismo. Por detr�s, estiveram os Kennedy. Expliquemo-nos: foi num encontro promovido pela m�tica fam�lia de JFK que Greg Carr conversou com Carlos dos Santos, � �poca embaixador de Mo�ambique na ONU e um dos diplomatas africanos mais ouvidos em Nova Iorque e em Washington. "Pediu-me para ajudar na luta contra a pobreza", conta o multimilion�rio.Quando chegou � Gorongosa, com a sua majestosa serra, onde nascem os rios que irrigam a reserva, ficou boquiaberto: "� isto", lembra-se de ter dito. "N�o preciso de ver mais nada." No acampamento de Chitengo, Greg Carr parece o homem mais convicto do mundo.

"Este parque tem potencial suficiente para ser a m�quina econ�mica impulsionadora do desenvolvimento do centro de Mo�ambique." � de crer no veredicto, quando vem de algu�m que, acerca do seu enriquecimento precoce, singelamente nos diz: "Tive uma ideia que se chama voice mail." J� iremos � explica��o do jackpot. S� para refor�ar a nossa negativa quanto ao "puro marketing", diga-se j� que o multimilion�rio vive numa tenda (os bungalows destinam-se aos turistas que come�am a aparecer), com uma cama e uma casa-de-banho, e o seu duche, ao contr�rio do dos clientes, � de �gua fria e fraca press�o. Ao ritmo do sol africano, levanta-se �s cinco/seis da manh� e deita-se pelas oito/nove da noite. No dia seguinte � nossa chegada, cruz�mo-nos com ele em Chitengo, a caminhar de computador port�til numa m�o. Demos-lhe conta do principal resultado do safari madrugador - t�nhamos visto sete leoas, certamente j� saciadas, porque deixaram em sossego ant�lopes que circulavam por perto. Ergueu os bra�os, a vitoriar o avistamento. Fonte de regozijo � tamb�m o progressivo regresso de elefantes ao parque. B�falos, h�-os igualmente. Recentemente, Greg Carr comprou 54 ao sul-africano Kruger Park, gastando na opera��o 100 mil euros. Mas a reintrodu��o de bichos vai continuar, pelo menos, at� 2015, obrigando ao disp�ndio de muito, muito dinheiro pela Funda��o Carr na aquisi��o de animais - mais b�falos e elefantes, zebras, gnus, hipop�tamos, cudos, elandes, rinocerontes... [Com os p�ssaros, n�o tem de se preocupar: existem mais de 400 esp�cies na reserva.] A isto somam-se 14 milh�es de d�lares (9,6 milh�es de euros) destinados � constru��o de estradas, pontes, edif�cios (incluindo um centro de investiga��o cient�fica) e uma nova pista de avia��o. Ser�o quatro anos a todo o vapor, at� 2010, quando se realiza o Campeonato do Mundo de Futebol na �frica do Sul, motor de que Greg quer tirar partido para que a Gorongosa atinja, no m�nimo, 50 mil visitantes/ano. De Harvard para o mundo O nosso homem � oriundo de um quase obscuro Estado no Noroeste dos EUA, Idaho, sobretudo conhecido como "terra das batatas". Na Universidade estadual do Utah, ao inv�s de dois dos seus seis irm�os, que ali cursaram Direito, de estatuto mais compar�vel ao do pai, cirurgi�o em Idaho Falls (cidade-natal da fam�lia), Greg tirou Hist�ria, em busca dos "ideais nobres do passado". Dispensou o apoio familiar, arranjou um quarto emprestado na casa de uma velhota parcialmente cega, contra a promessa de lhe ler alto os jornais, e conseguiu um emprego nocturno num resort local. Depois, para seu pr�prio espanto ("Sou do Idaho, santo Deus", comenta, a prop�sito), foi admitido na Escola Kennedy de Governa��o, na Universidade de Harvard, no curso de Rela��es Internacionais. A sua vida deu, ent�o, uma grande volta. Em Harvard, criou um clube de empres�rios com estudantes da universidade e do tamb�m m�tico MIT (Massachusetts Institute of Technology). As reuni�es semanais prolongavam-se pela madrugada, e as ideias para novas firmas nasciam como cogumelos. Greg Carr acabou por se aproximar mais de Scott Jones, um c�rebro made in MIT. O jovem de Idaho (estamos na d�cada de 1980), que guiava um Datsun a cair de podre, anteviu suculentas oportunidades a partir do momento em que o Governo federal quebrou o monop�lio telef�nico da AT&T e, do mesmo passo, p�s fim � proibi��o de novos servi�os para os clientes. Entrou em campo a tal "ideia que se chama voice mail", a que rapidamente se seguiram o fax e o reencaminhamento de chamadas. Greg e Scott formaram a Boston Technology, e gastaram todo o Outono de 1988 a inventar um sistema de correio de voz com uma capacidade 20 vezes superior � dos ent�o existentes. Melhor explicado: Greg arranjava investidores entre familiares, amigos e quem estivesse interessado em arriscar num produto nunca concebido; Scott tratava do software, acompanhado de uma trupe do MIT. Clientes: a Bell Atlantic e os seus 50 mil telefones residenciais.O sistema e o neg�cio n�o podiam ter corrido melhor. No momento seguinte, a Boston Technology j� trabalhava para 12 das 20 maiores companhias telef�nicas do mundo - dominava os mercados norte-americano e japon�s, e entrava na Am�rica Latina. Num ano, as receitas passaram de 2,5 para 25 milh�es de d�lares (17,2 milh�es de euros), e a companhia ingressou na bolsa. Greg Carr era, desde o princ�pio, presidente do conselho de administra��o e um dos principais accionistas. At� que, em 1998, a israelita Comverse comprou a Boston Technology por 800 milh�es de d�lares (mais de 550 milh�es de euros). Aos 39 anos, o filho mais novo do cirurgi�o Carr, de Idaho Falls, tornava-se multimilion�rio. Mas quanto ganhou, exactamente? "Muito mais do que precisava", responde o felizardo, na noite de Chitengo. Okay. Dois anos antes do jackpot, Greg tivera outro golpe de asa. Com a Internet ainda na idade medieval, convenceu investidores a comprar, � IBM e � Sears, um moribundo fornecedor de servi�os virtuais - a Prodigy. Esteve � frente da empresa apenas o tempo suficiente para a ressuscitar e rendibilizar. E que solu��o inventou ele? Virou-se para �frica, que a concorr�ncia olimpicamente ignorava, e p�s o continente negro on-line. Simples.S� lhe falta procriar Mo�ambique ainda estava longe. Antes do pa�s de Samora Machel, a Funda��o Carr gastou fundos num Centro de Direitos Humanos, em Harvard (18 milh�es de d�lares/12 milh�es de euros), e num museu em Idaho (2 milh�es de d�lares/1,3 milh�es de euros). Na Gorongosa, Greg quer chegar, em 2010, a 39 milh�es de euros de receitas anuais, pelo menos. Mas tem um compromisso com as popula��es que vivem nos limites e dentro da reserva - no m�nimo, 100 mil pessoas: 20% do encaixe � para melhoramentos nas suas aldeias. Pretende criar mil empregos directos; os indirectos s�o incalcul�veis. Tamb�m n�o esquece a componente de luxo, que considera essencial para a rendibiliza��o do projecto. E, claro, leva o assunto t�o a s�rio quanto isto: "Os objectivos que tinha anteriormente s�o os mesmos de agora - erguer uma organiza��o, trabalhar com as pessoas. Gerir um parque como este � um neg�cio. Penso muitas vezes, ali�s, em como � similar com os que tive." Telefonicamente, o secret�rio de Estado portugu�s dos Neg�cios Estrangeiros e da Coopera��o, Jo�o Gomes Cravinho, 42 anos, amacia-lhe a farda de executivo puro e duro. "Greg Carr re�ne uma configura��o muito rara: � um idealista pr�tico e pragm�tico, e, ainda por cima, est� dispon�vel para usar o seu pr�prio dinheiro." Por isso, ao conhec�-lo, o governante de imediato arranjou maneira de o ajudar: p�-lo em contacto com o Instituto de Investiga��o Cient�fica e Tropical, que possui um patrim�nio �nico de estudos geogr�ficos e geol�gicos da Gorongosa, e ainda desencantou cerca de 300 mil euros, do er�rio nacional, para apoiar iniciativas portuguesas adequadas ao projecto educativo que o norte-americano tem para a regi�o.Greg Carr j� conhece como poucos a Gorongosa. Quando � surpreendido por algum recanto desconhecido, manda o "heli" poisar e ordena: "Venham buscar-me daqui a tr�s horas." E embrenha-se na selva, sempre acompanhado pelo seu insepar�vel bra�o-direito, o portugu�s Vasco Galante, 50 anos. Ao descobrir as quedas de �gua do rio Mussapassa, por exemplo, Vasco apanhou um enorme susto: de surpresa, o multimilion�rio mergulhou, vestido, sem pensar em crocodilos ou em cobras. Quanto aos r�gulos, os chefes das aldeias, trata-os a quase todos pelo nome.Solteiro sem "tempo para a vida pessoal", falta-lhe contribuir, como a sua m�e n�o se cansa de lhe lembrar, para a legi�o de netos - e s�o j� 15. Quem sabe se Mo�ambique resolver� esse problema a Greg?



VEJA A GALERIA DE FOTOS DESTA REPORTAGEM



Nota: Link para o site do Parque da Gorongosa, onde encontra o trailer do document�rio "Africa's Lost �den", que come�ar� a ser exibido nas televis�es de todo o mundo a partir do pr�ximo m�s e, posteriormente, lan�ado em DVD: http://gorongosa.net/ "


(FIM DE CITA��O)


Acrescentamos a este texto mais um dado: A projec��o do mencionado document�rio "Africa�s Lost �den", ter� uma segunda sess�o na pr�xima Quinta-Feira, dia 14, pelas 16,00 horas, no Audit�rio da BTL, Pavilh�o 3, na FIL.


Sauda��es amigas!

Amor-Leiria, 12 de Janeiro de 2009

Celestino Gon�alves

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