( Sobre Guerra em Mon�ambique )
Em Novembro de 1965 eu tinha apenas 11 anos, acabados de fazer, mas j� nessa altura me interessava por pol�tica e acompanhei com sofreguid�o o evoluir dos acontecimentos.
Vivia em Vila Pery, hoje Chimoio, mas por muitas vezes �a � Beira e por tamb�m muitas vezes visitava aquele territ�rio ingl�s com os meus pais.
Admirava o estilo de vida que os "bifes" tinham trazido para ali, a Ordem, o Rigor, a sede de Cultura, com espect�culos semanais de �pera numa cidadezinha como Untali, com menos de 30 mil habitantes.
Nesse fim de 1965, o governo ingl�s dirigido por Harold Wilson decidira entregar o governo da Rod�sia do Sul � maioria negra como fizera na Rod�sia do Norte (Z�mbia) e com a Nyassaland (Malaui).
A popula��o branca residente na Rod�sia do Sul, cerca de 250 mil colonos, decidiu que Ian Smith seria o primeiro ministro de uma Rod�sia independente, governada por brancos, � semelhan�a do que acontecia na �frica do Sul, pa�s que imediatamente apoiou a iniciativa.
Pouco tempo depois, o governo ingl�s enviou para o �ndico uma task force constitu�da por um porta-avi�es, tr�s fragatas e navios de apoio, num total de nove navios.
A miss�o dessa for�a militar era desembarcar na Beira, porto mar�timo e principal via de abastecimento e de escoamento de produtos da Rod�sia, e de seguida rumar �quele territ�rio para imp�r pela for�a a aceita��o de um governo negro.
Por essa altura os hoteis de Mo�ambique e da �frica do Sul encheram-se com as mulheres e crian�as idas da Rod�sia, onde apenas ficaram os homens, em armas e dispostos a tudo para manter o governo de Ian Smith.
Salazar n�o hesitou.
A entrega da Rod�sia � maioria negra iria abrir uma nova frente de guerra no distrito de Manica e Sofala, bem como na fronteira sul de Tete.
Sem pensar duas vezes, Salazar deu ordens �s for�as portugueses aquarteladas na Beira no sentido de impedir o desembarque dos ingleses.
Nessa altura foi reactivada a bateria de costa da Beira, constitu�da por 3 pe�as fixas Krupps, se n�o estou em erro de 150mm, localizadas no bairro das Palmeiras.
Foram deslocadas para a foz do rio Pungu� v�rias pe�as de artilharia m�veis e o terra�o do Grande Hotel serviu de base a diversas pe�as de artilharia anti-a�rea.
Em poucos dias a cidade da Beira fortificou-se, preparando-se sem hesita��es para resistir a um ataque dos ingleses.
A frota inglesa, mesmo assim entrou nas �guas territoriais nacionais, supondo que os portugueses n�o lhes fariam frente.
Sa�ram ao seu encontro 2 T-6 Harvard, que dispararam algumas rajadas de aviso para a �gua, em frente � esquadra inglesa.
A� os ingleses perceberam que a ocupa��o da Beira, onde queriam estabelecer uma testa de ponte para atacar a Rod�sia, n�o ia ser pac�fica.
Possu�am naquele momento for�as suficientes para derrotar os portugueses, quer em homens, quer em avi�es, mais de meia centena de ca�as bombardeiros contra alguns T-6 Harvard e PV2 Harpoon, que seriam facilmente abatidos por serem avi�es lentos, quer em poder de fogo por parte das pe�as de artilharia das fragatas.
Apesar da desigualdade de for�as, em momento nenhum os portugueses pensaram em virar as costas ao combate.
V�rias pontes da estrada de 300km que ligava a Beira � Rod�sia foram armadilhadas pelas for�as portuguesas, que tinham ordens para as destruir em caso de desembarque ingl�s.
Harold Wilson decidiu suspender o ataque que iria op�r os aliados de s�culos, percebeu que Salazar n�o permitiria o desembarque.
A frota inglesa regressou a �guas internacionais onde iniciou um bloqueio naval a todo o tr�fego que rumava � Beira.
Apenas passavam os navios com mercadorias de e para Mo�ambique.
Os que traziam abastecimentos para a Rod�sia eram impedidos de entrar no porto da Beira.
Em pouco tempo o dispositivo militar foi refor�ado em terra.
De Portugal e de Angola chegaram avi�es de combate Fiat G91 e F84, para al�m de pe�as de artilharia.
A partir dessa altura havia um equil�brio entre as for�as portuguesas e as inglesas.
Deu-se ent�o o epis�dio do petroleiro grego Ioana V, de 12.000 toneladas, carregado de crude para a refinaria de Untali.
Os ingleses tinham decidido paralizar a Rod�sia de Ian Smith por falta de combust�veis.
Salazar mais uma vez decidiu "aborrecer" os ingleses.
Na Beira estava uma fragata (penso que era o antigo aviso Bartolomeu Dias) e um draga-minas.
Receberam ordens para zarpar e ir ao alto mar "buscar" o petroleiro bloqueado pela armada inglesa.
Os dois navios portugueses rumaram at� ao local e colocaram-se um de cada lado do petroleiro, de modo que os ingleses se o quezessem impedir de rumar ao porto da Beira teriam de disparar sobre os dois vasos de guerra portugueses.
Receberam ordens de Londres para n�o abrir fogo, e o petroleiro grego "furou" o bloqueio ingl�s.
Percebendo que Salazar jamais permitiria que os ingleses impuzessem na Rod�sia um governo de maioria negra, Harold Wilson ordenou a retirada da task-force, assumindo a derrota.
Carlos Branco - Movimento pr�-P�tria
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