Vicente, o melhor marcador de Pel�
por Rui Tovar, Publicado em 22 de Abril

Os carrinhos de Vicente, aqui a transportar Torres, sempre foram eficazes
Central Press/getty
A 21 de Abril de 1963, Portugal ganhou ao Brasil pela primeira vez e o defesa do Belenenses foi elogiado pela imprensa e at� pelo Rei.
Ao longo da hist�ria da selec��o portuguesa, iniciada em 1921, a cidade de Louren�o Marques, hoje Maputo, j� deu 16 internacionais, quatro deles irm�os: os Xavier (Carlos e Pedro) e os Lucas (Matateu e Vicente). Este �ltimo � um nome incontorn�vel no panorama nacional e at� mundial. Se n�o acredita, pergunte ao Pel�, uma autoridade neste assunto. � o Rei quem, volta e meia, fala de Vicente: "O melhor jogador que me marcou, porque nunca me tocou, quanto mais magoar!" E aten��o, que, das 20 internacionaliza��es de Vicente, seis delas foram com o Brasil. Sempre com Pel�. Mas s� a 21 de Abril de 1963 � que os dois travaram um famoso duelo, que catapultou o portugu�s para a fama.
Falhado o objectivo da qualifica��o para o Euro-64, num jogo de desempate com a Bulg�ria, em Roma, a federa��o portuguesa organizou um particular com o Brasil, no Est�dio Nacional. Numa tarde de sol esplendoroso, a equipa nacional n�o s� ganhou o jogo frente a essa pot�ncia recentemente campe� mundial, com jogadores de craveira como Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zito, Amarildo, Zagalo e Pel�, como todas estas vedetas se renderam � classe e � alma lusitanas. Sobretudo � de Jos� Augusto, autor do golo da vit�ria (1-0), de cabe�a, a cruzamento de Ya�ca, e, claro, � de Vicente, que anulou o Rei de forma simples mas eficaz, sem recorrer � falta nem a qualquer artimanha do g�nero. Ali�s, era um costume do defesa-central do Belenenses jogar sempre limpo, raz�o pela qual at� ganhou um pr�mio fair-play durante a carreira. Mais uma vez, Pel� entra em cena para elogiar o estilo de Vicente. "Voc�s nem imaginam a quantidade de faltas que sofria sem o �rbitro ver, sem que a bola estivesse sequer ao p� de mim. Era atacado de todas as maneiras e feitios. A esses defesas eu chamava-os de 'faca na liga', porque queriam-me parar a todo o custo e parecia que jogavam com uma faca escondida nas meias. Ora o Vicente nunca me fez mal algum. Lembro-me at� de uma frase c�lebre dele: 'Joga o teu futebol que eu jogo o meu.'"
Nesse particular do Jamor, em que Portugal ganhou pela primeira vez ao Brasil, um enviado do jornal ingl�s "Daily Mail" escreveu que "Vicente eclipsou Pel�", antes de fazer futurologia: "Portugal j� tem equipa para o Mundial-66." E n�o � que acertou? Melhor ainda: em 1966, Portugal chegou ao terceiro lugar nesse Mundial de Inglaterra, depois de eliminar o Brasil na fase de grupos, no sexto e �ltimo jogo de Vicente com Pel�. S� que dessa vez n�o foi ele que o marcou. Foi o sportinguista Morais, c�lebre por ter atirado o Rei para fora do relvado com duas faltas seguidas. Vicente, esse, ficou fora da confus�o. E logo ele que, inocentemente, julgara que s� fora convocado para o Mundial para marcar Pel�. Mas n�o. Vicente jogou sempre, at� aos quartos-de-final, com a Coreia do Norte (5-3). Nesse jogo, fracturou uma das m�os, o que o impossibilitou de jogar as meias-finais com Inglaterra, na �nica derrota da selec��o nos seis jogos do Mundial.
Na �poca seguinte (66-67), Vicente, j� com 31 anos, teve um acidente de via��o, perto do Est�dio do Restelo, perdeu a vista do lado direito e nunca mais jogou futebol. E nunca mais desarmou Pel�. Bastou aquela vez para ficar na hist�ria.
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