segunda-feira, 19 de outubro de 2009

80� ANIVERS�RIO DIA 17

Assinalando o 80� anivers�rio de Mario Wilson, sabado passado dia 17 de Outubro, com uma excelente entrevista no Jornal a Bola...

Capit�o M�rio Wilson j� tem 80 anos 17/10/2009
Por Carlos Rias
Jornal portugu�s "A Bola"
17/10/2009

� um nome incontorn�vel na hist�ria do futebol portugu�s. Confessa, ainda hoje, que tem dois amores- o Benfica e a Acad�mica. Mas tudo come�ou em Mo�ambique, h� 80 anos. M�rio Wilson est� de parab�ns e celebra o anivers�rio com uma entrevista a A BOLA.
- Lembra-se de Mo�ambique, das primeiras brincadeiras?
- Perfeitamente. Tanto na rua, como nos recreios, manifestava a minha enorme paix�o pelo futebol, identificava-me com ele. Quer cal�ado ou descal�o, queria era jogar.
- E o cheiro da terra de �frica?
- Tenho-o comigo, imortalizei-o na minha mem�ria. E a mem�ria tem-me sido ben�fica para coisas que s�o priorit�rias.
- Chegou a constituir uma equipa com os amigos, os �Fura-redes�...
- Isso foi no Alto Ma�. Era uma zona de transi��o, a� j� funcionava a sociedade mo�ambicana. Tive a sorte de ser neto de Henry Wilson...
- Que era americano. E teve uma av� que era rainha...
- Cham�vamos-lhe a rainha de Tembe, mas n�o era bem rainha, era uma princesa, porque era filha de um dos primeiros r�gulos, que vivia na Catembe. Foi a� que o meu av�, no seu percurso comercial, chegou e a viu. Os r�gulos tinham filhas que nunca mais acabavam! O meu av� fez uma op��o: casar.
- E Henry Wilson...
- Era espectacular. Pegou na minha av� em Tembe e transportou-a para Louren�o Marques. � como ir busc�-la a Almada e traz�-la para Lisboa. Dela teve seis filhos. E educou-os na �frica do Sul. Isso fez com que aparecesse uma mentalidade diferente em toda a fam�lia Wilson. O meu pai tamb�m era um dos que ia para l� estudar.
- O seu av� era branco?
- Branquinho! No meu gin�sio, o �Mister Wilson�, est� a minha fotografia, mas para mim � o meu av� que l� est�. H� qualquer coisa muito profunda, com ra�zes espectaculares. Disso n�o me livro.
- Que fazia o seu pai?
- Quando regressou da Africa do Sul beneficiou da situa��o privilegiada que o pai tinha. E instalou-se nas oficinas de electricidade e outras que este j� possu�a. A minha ida para Coimbra tem muito a ver com esta filosofia familiar, com o sentimento de que era preciso estudar, ter cultura, ser independente.
- Jogou numa filial do Benfica, o Desportivo de Louren�o Marques...
- � da� que aparece a minha tend�ncia benfiquista, mais ainda quando come�o a ler uma revista, a Stadium. Nessa revista aparecem fulanos africanos, o Paquete, campe�o de 100 metros, o Matos Fernandes, campe�o barreirista, o Esp�rito Santo, que era do salto em altura e da velocidade...Todos eles fizeram aparecer em mim esse primeiro amor.
- Mas vem para o Sporting!
- Eu e o Juca �ramos da selec��o e goz�vamos de ser elementos de elei��o. J� a� come�a a aparecer o Costa Pereira, no Ferrovi�rio. E h� um fulano do Sporting, que tinha a papelaria Progresso, que disse: �Estes dois v�o para o meu Sporting�. E trouxe-nos. Em Lisboa treinava tr�s vezes por semana e ia estudar ali para os lados dos Olivais. Morava na Pra�a do Chile. O meu pai, pela forma��o que tinha, sabia que o futebol era coisa passageira.
- Quantos irm�os tem?
- Comigo somos seis.
- Todos formados?
- Os mais novos � que vieram para Portugal formar-se. Eu, um que � psiquiatra e outro que � radiologista, viaj�mos para c� e � por causa dos estudos que deixo o Sporting, quando tinha acabado de ser campe�o nacional. E vou para a Acad�mica. Em Coimbra instalo-me na �rep�blica� onde estava o Almeida Santos, j� com o meu irm�o l�.
- Em Mo�ambique era conhecido por Corina!
- Corina! Isso aparece de uma forma curiosa. Quando nas�o, entra em voga em Mo�ambique uma m�sica portuguesa. Ainda hoje a canto: �Corina, M�rio morreu�E como tive o nome de M�rio, a minha madrinha chamava-me de Corina.
- Ainda o conhecem por Corina?
- Quando dizem Corina sei que estou a falar com um mo�ambicano. Da velha guarda, pois claro!

Campe�o no Sporting

- N�o veio contrafeito para o Sporting, rival do seu Benfica?
- N�o, porque a minha base era os novos horizontes que Portugal me abria. Mais, vinha para substituir o Peyroteo, um dos cinco violinos. A clubite doentia nunca foi muito apan�gio meu. Continuo a ter os meus dois amores (Benfica e Acad�mica), mas libertei-me cedo da forma doentia de sentir e dizer �sou deste e n�o posso ver os outros�.
- A viagem para Portugal levou um m�s, n�o foi?
- Viemos no Mouzinho de Albuquerque, eu e o Juca. O Juca era um bonit�o, de uma eleg�ncia fant�stica, ainda por cima de ra�a branca. Era um dos engatat�es nessa viagem. Nos bailaricos l� estava o Juca. N�s, os africanos de c�r, ainda que eu tivesse uma estatura agrad�vel, �ramos segregados, punham-nos de parte de forma violenta.
- Chega a Alvalade com 19 anos, para substituir um �dolo, tamb�m mo�ambicano.
- E fui o melhor marcador do Sporting logo no primeiro ano e o segundo melhor do campeonato (o Julinho, do Benfica, ficou em primeiro) e campe�o nacional na segunda �poca. Mas quando apareci, creio que nem fiz os jogos todos, n�o entrei logo de caras.
- Como � que passou a defesa-central?
O Sporting vai jogar uma Ta�a Latina e lesiona-se o Passos. N�o tinham outro defesa-central, eu at� era polivalente e disseram-me: �� menino para fazer o lugar do Passos?� Claro, disse que sim. E aceitei, porque antes, na despedida do Peyroteu, num jogo particular, puseram-me a defesa-central e eu abri o livro. Foi no Sporting que comecei nesse lugar. Quando vou para a Acad�mica j� vou com a sensibilidade do lugar. N�o estranhei ocupar essa posi��o.

Na acad�mica com ajuda do ministro

- � verdade que a sua transfer�ncia para Coimbra meteu a cunha do ministro da Educa��o?
- � verdade, em absoluto. Havia a famosa Lei de Op��o, mas porque eu era estudante, o minist�rio abriu um precedente que me beneficiou. Depois apareceram outros jogadores, como o Peres, que se transferiram da mesma forma.
- Em Coimbra come�a a viver num ambiente subversivo, contra o regime fascista...
- Antes vivi com o Agostinho Neto, em Lisboa. Tinhamos uma intimidade profunda. N�s, os africanos, n�o nos libert�vamos do esp�rito de independ�ncia. Nessa altura reunia com Agostinho Neto, M�rio Miranda, Marcelino dos Santos (que fez atletismo comigo) e outros ligados � Guin� e a Cabo-Verde. Junt�vamo-nos na Pra�a do Chile � 2� feira, era infal�vel, e �amos numa romaria at� aos Restauradores. Em Coimbra junto-me a Chipenda e ao Ara�jo. Eles acabam por fazer a sua luta, mas entra em ac��o a PIDE e s�o presos. Depois s�o libertados, um pouco por minha influ�ncia. Os da PIDE chamaram-me, porque era o capit�o da Acad�mica e disseram-me: �Estes tipos queriam fugir e a gente apanhou-os a caminho da Figueira da Foz. � importante que o Capit�o fa�a com que eles abandonem essa ideia. E diga ao Chipenda, que se quiser, deixamo-lo ir fazer os exames que tem marcados na universidade� E foi mesmo, no Mercedes da PIDE, com chaufer e tudo. Mais tarde d�-se um conflito acad�mico de monta, que origina a paragem do campeonato por uma jornada, como forma de protesto contra a coloniza��o. Surgem os militares e somos chamados � Pra�a da Rep�blica para definir a nossa posi��o. Fui o primeiro a ser ouvido, mais uma vez por ser o capit�o. �O senhor joga ou n�o joga?�, perguntaram-me. �Desculpem, mas preciso de falar � parte com os jogadores�, respondi. Junt�mo-nos todos numa sala e falei: �Temos tempo para as nossas lutas, n�o vamos suicidar-nos colectivamente. Acho que devemos dizer que vamos jogar. E o Chipenda,o Ara�jo, o N'dalo Fran�a e os demais disseram que sim. Mais tarde fugiram e entraram na luta da independ�ncia.
- Em Coimbra passa a ser o Velho Capit�o...
- Foi a alcunha que mais perdurou. Porqu�? Porque em Coimbra fui o eterno capit�o, pela minha postura e maneira de ser. Era capit�o na Acad�mica quem tinha as habilita��es mais elevadas. At� que apareceu C�ndido de Oliveira e o Oscar Tellechea e disseram. �N�o, o fulano que tem o perfil de capit�o que n�s imaginamos � M�rio Wilson.� E fui capit�o para sempre.
- Conheceu Mestre C�ndido. Como era o homem, o treinador?
- Tive um conv�vio extremamente forte com ele. Foi sempre impec�vel. Ia para o hotel Astoria, onde vivia e fal�vamos horas a fio de futebol. Era um homem de grande dignidade, que gostava do bom conv�vio. Era uma del�cia ouvi-lo. E era profundo, humano e inteligente no que defendia. Foi um dos catedr�ticos do futebol. Havia um grupo de doutores no caf� Arc�dia que requisitava o C�ndido e ele presidia a essas reuni�es como um aut�ntico catedr�tico, com um dom�nio cultural impressionante sobre tudo o que se passava.
- Iniciou a sua carreira de treinador como adjunto dele, n�o foi?
- Sim, ainda era jogador, quando fui seu adjunto.
- Em 1963 acaba como jogador. Passa a adjunto de Otto Bumbel, depois de Janos Biri e de M�rio Imbelloni e a fechar este ciclo � adjunto de Pedroto.
- Quando o Pedroto sai � que eu assumo o lugar de treinador da Acad�mica. O Pedroto era intrat�vel. Tinha atitudes que ro�avam o racismo. Ele queria sempre ser o big boss.
�Pedroto era ele, ele e s� ele�
- As grandes lutas Norte-Sul come�am entre Pedroto e Wilson. E s�o lutas duras...
- S�o, s�o... Mas em Coimbra eu era o Capit�o e os jogadores andavam � minha volta, pouco ligavam ao Pedroto. Eu era o esp�rito acad�mico, o Pedroto era ganhar, ganhar...tinha uma determina��o pr�pria, um pouco a destoar daquele ambiente de Coimbra.
- Pedroto deixa a Acad�mica por dar uma punhada num jornalista de Coimbra, n�o �?
- Exactamente. Ele foi acumulando pequenos �dios. Tinha coisas tal como o Pinto da Costa, de uma determina��o inabal�vel. Uma das m�ximas do Pedroto era: �Morrer por morrer, que morra o meu pai, que � mais velho�. Isto era Pedroto.
- Ia falar da sa�da de Pedroto...
- O Porto foi jogar a Coimbra e esse tal jornalista, depois do jogo, escreveu: �Este jogo antes de come�ar j� estava perdido.� O Pedroto n�o esperou, foi ao caf� onde se reuniam os te�ricos, viu o jornalista e perguntou-lhe: �Foi voc� que escreveu isto?�. - �Fui, porqu�?� E Pedroto respondeu-lhe com um soco nos queixos. Isto era Pedroto.


Aqui:

Aproveitando a situa��o, poderemos recordar um pouco a sua carreira em Imagens no seu album n� 63 gravado no Rogertutinegra

http://rogertutinegra7.multiply.com/photos/album/65/65#

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